Jesus dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia após dia tome a sua cruz e siga-me." Jesus Cristo nos chama a segui-lo. Tal convite não pode ser respondido com um mero levantar de mão em cruzadas evangelísticas. Milhares de mãos se levantando, respondem sim ao apelo de seguir Jesus. Na realidade, pode ser que o gesto seja o primeiro de uma sucessão benéfica que inclua: apertar a mão de irmãos, lavar os pés dos santos, enxugar lágrimas a aflitos, dar água e pão aos pobres, curar as feridas dos flagelados. Se este for o processo, então aquele gesto foi válido. No entanto, se não propiciar tal fluxo de vida e sucessão de atos, não passou de coreografia de trabalho religioso, ilusão para os servos da idolatria estatística e fantasia para os que pretendem povoar o céu a partir da graça barata.
Seguir Jesus não é ser modelado dentro do apertado terreno dos condicionamentos psicológicos, culturais e religiosos dos nossos guetos evangélicos. Entre nós a conversão é muitas vezes um fenômeno de mímica social, não o nascer de uma nova criatura. A conversão não é, na nossa superficial e freqüentemente hipócrita cultura evangélica, a assimilação de chavões, palavras, gestos feitos, tom de voz e indumentária própria. A igreja de Cristo no Brasil precisa ser liberta da religiosidade que por vezes Jesus odiou e reprovou.
Discipulado também não é apenas vida moral e social ajustada. Pagar as contas em dia, lavar o carro todo sábado, levar os filhos ao parque, sair para jantar uma vez por semana
com a esposa, ser bom vizinho e ótimo profissional não é tudo sobre discipulado. Esta vida certinha ainda está dentro do ordinário. O discipulado está no nível do extraordinário. Seguir Jesus extrapola os melhores hábitos. É ir tão mais além que desajuste os certinhos e desinstale os irremovíveis e plantados no seguro terreno da vida acomodada.
Ser discípulo é ter tanto a disciplina quanto a criatividade das ondas do mar. Disciplina porque as ondas são ordenadas e têm princípios. Criatividade, porque elas existem dentro de uma dinâmica: cada onda é diferente da outra. Neste sentido, seguir Jesus é obedecer a princípios imutáveis, mas é também ser livre como as ondas do mar. Um discípulo, ao mesmo tempo que vive obediente a Deus, descobre a pessoa dinâmica que deve ser, conforme a expressão da sua potencialidade e mediante os variados dons espirituais que a graça de Deus acrescenta à vida de cada cristão.
Cristo não “esmaga a cana quebrada e nem apaga a torcida que fumega”. Ele não violenta o coração. Não faz apelos emocionalmente irresistíveis. Não faz lavagem cerebral. Seu convite ao discipulado começa com um "se alguém quer". O homem deve analisar se deseja segui-lo. Ninguém é forçado a aceitar. O candidato ao discipulado tem que se sentir em liberdade, pois Jesus mostra que há opções. Todavia, a opção para fora do discipulado é morte, escravidão, gemido e náusea No discipulado há uma lei básica: a pessoa é livre para tudo, só não é livre para deixar de escolher. O candidato a ele é escravo da sua liberdade. Mas é tão livre que pode até escolher ser escravo.
O seguidor de Jesus deve saber o que quer, porque o discipulado sempre exige uma de-cisão. No discipulado, no entanto, não raramente as tomadas de posição implicam rupturas, fraturas emocionais, psicológicas, familiares, sociais e até econômicas. O discípulo tem que saber o que quer, porque dele é exigido que abra mão de valores, a fim de se apoderar do Reino de Deus: "O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo." (Mat 13.44)
Boletim Liturgico da Igreja Prsbiteriana de Jardim São Paulo - do dia 26/06/2011